Uma última consulta.

Dra Rapha: Pode entrar.

Rapha: Olá dra.

Dra Rapha: Olá Rapha! Que me manda hoje?

Rapha: Nada... Assim... Eu me sinto só.

Dra Rapha: Só, Rapha?

Rapha: É dra. Eu me sinto só, como se não tivesse ninguém em volta, ou pior... Como se tivesse um monte de gente, mas ninguém consegue me ver, não importa o quanto eu grite ou tente chamar a atenção.

Dra Rapha: Huuum... Sozinha na multidão.

Rapha: É... Eu preciso mesmo de alguém pra conversar, já me disseram que é uma solidão interna não externa, mas... Ás vezes falar ajuda, você que disse isso, vc sempre diz isso e eu... Eu preciso tanto conversar.

Dra Rapha: Então converse comigo Rapha, me conte o que você quer contar, bote tudo pra fora.

Rapha: Não sei se isso vai funcionar dra.

Dra Rapha: Por que não? Já não funcionou antes?

Rapha: Porque você é eu dra. E eu acho que cansei de me auto analisar, desculpe, mas acho que preciso de uma segunda opnião.

Dra Rapha: Rapha, o que uma segunda opnião pode te dar que eu não posso?

Rapha: Uma visão nova dra, uma visão imparcial. Talvez uma visão mais racional, menos romântica, você sabe como eu sou passional.

Dra Rapha: Você nunca achou nada ruim ser alguém emotiva e passional, o mundo não está carente de pessoas assim?

Rapha: Aí que está... Você sabe o que é se sentir o último dos moicanos? O peso todo de um povo nas suas costas. Dra a vida vem me ensinando que ser racional é a saida. Sempre me deparo com pessoas racionais que levam todo o sentido das minhas emoções embora, meu coração foi morrendo aos pouquiiinhos... Antes tivesse sido de uma vez, toda a dor não deveria ser sentida por prestação.

Dra Rapha: Rapha...

Rapha: Dra, por que as pessoas mentem? Por que elas falam uma coisa e fazem outra? Não existe mais a vontade de manter a honra de sua palavra? Se você SABE que vai machucar alguém por que não para enquanto ainda dá tempo? E por que mente pra tentar amenizar toda uma dor que você nem tem idéia de como é?

Dra Rapha: Ás vezes não é por mal, Rapha. Nem todo mundo sabe lidar com seus sentimentos, quanto mais com os dos outros.

Rapha: A vida não é justa dra e eu não vou perder meu tempo lhe perguntando o porque disso. Pelo simples fato de você ser eu.

Dra Rapha: Então é isso? Você vai se entregar?

Rapha: Me entregar? Ao que? Isso nunca foi uma batalha, sempre foi uma guerra interna entre eu e as projeções tão errônias que fiz das pessoas. Dra "a mão que afaga é a mesma que apedreja". Meu motivo de sorrir é o mesmo de chorar, meu remédio é meu câncer e minha luz é a escuridão ao meu redor. Não existe mais nada que você possa fazer por mim, você sou eu.

Dra Rapha: Sendo assim... Por que você veio aqui, Rapha?

Rapha: Para uma última consulta, um adeus, um passe bem e se cuida. Talvez uma última pergunta.

Dra Rapha: Faça-a.

Rapha: Se a dor permacesse mesmo após a morte, se tudo do outro lado é reflexo do que fazemos aqui... Por que vivemos? Seria viver um treino para morrer?

Dra Rapha: Se você não sabe... Adeus Rapha.